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Barca do Lago
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Contentes todos os moradores com tão soberana dita, trataram logo de Lhe  edificar uma ermida, como o puseram por obra, sobre umas penhas junto ao rio e ao mesmo lago, onde começou logo a ser visitada e buscada, com grande devoção, por todos aqueles povos vizinhos  e também a ser muito numerosos os concursos de gente e muitas as romagens; e como a Senhora tinha levantado na Sua casa uma piscina de saúde, todos os que padeciam doenças e enfermidades iam ali, para dela se aproveitarem.

Vendo aqueles devotos e pios moradores os grandes concursos de gente, ainda mais requintaram o seu  fervoroso zelo porque, atendendo a que a gente era muita, e que a barca para as passagens não era tão bem assistida, (pois o trabalho era muito e os emolumentos dos barqueiros, nenhuns) dispuseram, para que a barca fosse melhor assistida, consignar-lhe algum estipêndio e, assim, lhe conseguiram uma renda perpétua, desta forma: dispuseram que se elegessem quatro homens e que fossem eleitos por votos, para que cada ano servissem de barqueiros da barca de Nossa Senhora e que se lhes dotasse tais e tais propriedades ( vêm nomeadas num livro próprio) e, além disso, lhes desse cada um dos moradores das referidas freguesias, a saber: a de S. Miguel  de Gemeses meia rasa de milho e dois molhos de centeio; os moradores de S. Martinho de Gandra meia rasa de milho, um molho de centeio e outro de trigo; e os de Palmeira do Faro outra meia rasa de milho: isto entende-se de cada um dos lavradores das ditas freguesias.

Esta piedade moveu ainda muito mais a Mãe dos pecadores  a fazer a todos muito maiores maravilhas; aqui conheceram os tíbios e os avarentos que o suspender Deus as  Suas  maravilhas e o deixar de nos fazer  favores tem  como causa  a nossa ingratidão  e a nossa avareza, e  que se  fossem solícitos e devotos no seu serviço e no de Sua Mãe Santíssima, nunca  cessara no exercício  da Sua misericórdia.

Com a nova corrente de milagres e maravilhas, ainda se espalhou muito mais a fama deles por todas as freguesias mais  remotas, tanto que os moradores da freguesia de S. Tiago do Castelo de Neiva deram para esta devoção ( para os homens que elegessem para a passagem da sua barca), um molho de trigo cada um. A estes seguiram-se os moradores de S. Paio de Antas, e prometeram um molho de centeio cada um. Os moradores da freguesia de S. Fins de Belinho prometeram outro molho de centeio. Os moradores da freguesia de S. Bartolomeu de Belinho prometeram outro molho de centeio. Os moradores da freguesia de S. Bartolomeu do Mar  prometeram  um molho de centeio e outro de milho. Os de S. Miguel das Marinhas prometeram um molho de centeio e outro de trigo.  Os moradores da vila de Esposende, que lavrassem terras, prometeram  um molho de trigo cada um.

Todas estas promessas  em louvor da Senhora  foram feitas por aquelas freguesias que estavam pela parte do norte, por onde passa o rio Cávado, que é onde fica a Sua casa; as que ficam da parte do sul (onde fica Fão), e os moradores de Fonte Boa, freguesia de S. Salvador, que antigamente se chamava Fonte Mar, por ficar á vista do mar, e depois se chamou Fonte Má, pela ruim água que lançava; depois foi-se tornando boa,  donde lhe veio o nome que agora tem de Fonte Boa. Estes prometeram para os barqueiros da Senhora, na forma dos mais, um molho de trigo e outro de centeio, cada um. Os moradores de S. João de Barqueiros, que é anexa á de Fonte Boa, prometeram dois molhos de centeio. Outro tanto prometeram os habitantes da freguesia de Rio Tinto, assim chamado porque acima da Barca do Lago se vêem as ruínas de um castelo, a que ainda hoje chamam o Castro, que se presume ser dor Romanos, e chega ao rio onde chamam o Poço da Batalha ( que é um pego profundíssimo e neste  sítio deram os cristãos  uma batalha  aos Mouros).  Iam-se estes retirando, e os cristãos no seu alcance, em forma que já muito distantes donde se principiou o choque, os acabaram de vencer, por  onde corre  um pequeno rio que se vai meter  no Cávado, cujas águas cresceram e se distinguiram  com o sangue dos mortos. Por isto lhe ficou  o nome Rio Tinto. Os moradores de S. Miguel  d”Apúlia prometeram um molho de trigo e outro de centeio. O juiz do subsino  em  nome dos que não lavram, prometeu oitenta réis. Os pescadores e mestres de lanchas prometeram, para o concerto da barca, meia canada de azeite  de peixe.